Aventura de 218 Km de carro a vela por Windcar Brasil e Windcar Kassino

VELEJANDO NO EXTREMO SUL DO BRASIL SOBRE RODAS
218 Km of land sailing adventure in the extreme south of Brazil



A partir de outubro de 2012 passei a pesquisar e desenvolver meu próprio carro a vela, uma paixão desde garoto que agora seria concretizado. Morando no sul do Brasil a 20Km da maior praia do mundo, com ventos consistentes que foram motivo de estudo e implementação de vários parques eólicos não havia mais porque protelar esse desejo.
Graças a internet e aos vídeos no You Tube comecei meu projeto, procurei as raras pessoas que praticavam o carrovelismo na minha cidade, Rio Grande, e achava que os carros poderiam ser mais dinâmicos e fui para a bancada. Simultaneamente procurei um amigo que fora campeão de windsurfe e comecei os teste com uma pequena vela de 5,1 m², vela esta que se mostrou muito rápida e surpreendendo-me com a performance em ventos de 15 nós ou mais mas dificultando com vento fraco.

Fiz o primeiro chassi enorme, reduzi as dimensões consideravelmente e ficou com uma instabilidade desejável tornando o velejar mais dinâmico mas ainda acreditava na busca de uma estética melhor e construímos o terceiro chassi que é o registrado nesse diário de bordo da aventura de 218 km no extremo sul do Brasil.

No dia 18 de agosto de 2013 reunidos nos Molhes da Barra do município do Rio Grande as 8 h da manhã eu Paulo Albernaz e Pedro Barros montamos nosso equipamento, dois carros a vela chassi WBIII e um reboque criado e construído pelo Pedrão.
Estávamos como adolescentes, eufóricos e sem nos darmos conta que o vento simplesmente não estava soprando como os sites de previsão previam, naquele momento soprava apenas uma brisa do leste diferente da previsão de 17 nós Nordeste.

Era tanta carga que o windcar do Pedrão com uma vela de 5,1 m² não movimentavam as rodas, andamos por alguns metros com os dois carrinhos amarrados para distribuir o peso, não seria possível continuar assim, portanto decidimos solicitar a um amigo para nos trazer uma vela maior, uma vela de 7,4 m².
Vela gigantesca instalada no bitrem do Pedrão e seguimos viagem e dando risada, pois andávamos a 15 Km/h e não acreditávamos conseguir o feito de percorrer mais de 200 Km naquela velocidade.
com o início da tarde o vento aumentou a intensidade e nos proporcionou uma velocidade um pouco maior, 25 Km/h, o que nos encheu de esperança e tranquilizou nossos corações ansiosos pela aventura.


Nessa foto a cima podemos ver a nave do Pedrão com provisões e equipamento para fazer o Dakar!!!
Seguimos viagem com vento vindo do leste com uns 10 nós de intensidade ganhando um pouco mais de velocidade buscando bordejar e alcançando uma velocidade de 32 Km/h. chegamos ao naufrágio onde ficam expostos cavername de madeira conhecido como "Barcaças" as 14 horas, uns 35 Km do ponto de partida.


Sem perder muito tempo seguimos viagem pela maior praia do mundo, um orgulho fazer parte desse ambiente, e após duas horas de vela tranquila e de transpor alguns riachos de água doce que rasgam a areia branca da praia drenando alagados e banhado para o mar e com isso tomarmos alguns banhos indesejáveis de água fria chegamos ao farol Sarita, farol de perfil quadrado e pintado alternado horizontalmente de vermelho e branco. O farol do Sarita fica a 62 Km do ponto de partida chegando as 16 horas.



O Farol Sarita possui 40 metros de altura, inaugurado em 18/10/1909


Continuamos a nossa aventura mas já percebendo a improvável montagem do acampamento no próximo farol, o farol do Verga, um farol pequeno com aparência de pirâmide onde o mato de pinho próximo da praia nos daria abrigo das intempéries, principalmente do vento que no final do dia aumentava a intensidade e começava a soprar finalmente do Nordeste.
Então ao entardecer paramos, procuramos um lugar afastado da beira da praia e montamos o acampamento, barraca, fogo, janta e muita risada pelo dia maravilhoso que tínhamos usufruído e pela incerteza do dia de amanhã. Não eramos acompanhados por nenhuma equipe ou veículo de apoio.




 Refeição quente na temperatura e no tempero com minhas pimentas favoritas, repondo as calorias e aquecendo o corpo que já estava reclamando do dia inteiro permanecer molhado em um dia quente para o nosso inverno, perto dos 14° C na maior parte do dia, já a noite a umidade e o frio eram agressivos.


Finalmente acordamos com o vento tão esperado de 17 nós Nordeste forçando a estrutura da barraca e nos enchendo de alegria, as 9 horas zarpamos em mais um dia de aventura seguindo em direção do nosso destino.




Em pouco tempo avistamos o farol do Verga, farol pequeno e desativado com formato de boia sinalizadora, as 9:48 horas com 111 Km rodados.
Fizemos uma parada rápida para registrar o ponto de referência e seguimos viagem.

O Farol Verga possui 15 metros de altura e foi inaugurado em 13/12/1964

A beleza de nosso litoral está na imagem infinita, uma praia que apresenta apenas leves curvaturas e a cada quilômetro percorrido uma certeza de como somos pequenos e devemos respeitar uma maravilha como o nosso litoral que a única certeza que temos é não saber o que nos espera pela rapidez da mudança da maré, movimentação incessante das dunas e o vento muitas vezes abrasivo e outras inexistente.


A fauna nos deu algumas surpresas, confesso que a sensação não era muito boa já que encontramos animais mortos com mascas de agressão, talvez de pescadores e esse pequeno filhote de leão marinho provavelmente perdido e com fome, não paramos, apenas registramos a imagem para evitar importunar o pequeno animal, seguimos viagem.
Quando avistamos o farol do Albardão, foi como ver palmeiras no deserto, sabíamos que já tínhamos percorrido mais da metade da jornada e que lá há uma base da Marinha do Brasil que mais tarde iríamos descobrir o quanto seria importante para nós.




Farol Albardão, com 50 metros de altura, inaugurado em 03/05/1909

Feito um breve lanche, barras de cereais, chocolate e isotônico aproveitamos o vento NE, intenso com mais de 18 nós e deslizamos pela praia ampla e de piso bem firme alcançando velocidade de 46,6 Km/h apesar da carga elevada, felizes e finalmente andando com adrenalina enchemo-nos de confiança e seria uma rápida viagem até a foz do arroio Chuí, fronteira do Brasil com o Uruguai.
Estávamos redondamente enganados, o que havia pela frente era uma prova de brio e controle emocional já que não éramos acompanhados por carros de apoio.


Há alguns meses atras fiz esse percurso de motocicleta para fazer um reconhecimento e o concheiro estava firme e facilmente trafegável, a realidade agora era muito diferente, o mar já mostrava a tendência de elevar a maré, o vento permanecia intenso proporcionado ainda muita energia para vencer o solo constituído por fragmentos de conchas e pouca areia.


Então percebemos que seria difícil transpor o concheiro com o carro a vela carregado com tanta carga como o carro do Pedro, a luta entre tração poderosa de uma vela com 7,4 m² contra pneus finos e poucas rodas para distribuir o peso fazia aos poucos um quadro caótico e preocupante, primeiro a retranca não suportou a pressão e quebrou dando sinais de que deveríamos mudar a estratégia mas colocamos um mastro de fibra de carbono no lugar da retranca que funcionou perfeitamente mas o pé de mastro não suportou a força do vento sendo colhido por tamanha vela. Tubo de aço carbono de quase duas polegadas e 2,7 mm de espessura partiu, a pressão psicológica nos impediu de registrar esse momento tenso.


Decidi seguir em frente para chegar no Balneário do Hermenegildo e solicitar resgate, o Pedrão ficou com os mantimentos, bastante água, barraca e teria que montar acampamento na praia atras das dunas e eu trouce uma barra de chocolate e a mochila de hidratação com um litro de água.
Não perdi tempo, mas como meu carro a vela estava leve ocorreu o contrário do carro do Pedro, o carro deslizava nas conchas moídas e aproava o vento dando giros espontâneos dificultando o percurso, mas em momentos como esse vemos o amparo pelas forças que guiam nossas vidas, surgiu no meio do nada um caminhão trafegando quase dentro da água indo em direção ao Albardão, param para conversar e solicitei que ajudassem o Pedro a ir ao Farol do Albardão onde os militares da Marinha do Brasil iriam demonstrar cordial postura e acolher o "naufrago" até ser resgatado no próximo dia, eu tranquilo com o parceiro de viajem segui o meu caminho em frente, enfrentando a incerteza e a transformação da paisagem de uma forma abrupta.

A lua cheia as 16 horas surgiu no horizonte bem em cima do mar e a água cresceu muito rápido.
A praia simplesmente transformou-se um um tobogã de areias soltas e o vento sumiu, fazendo com que eu me deslocasse a uma velocidade impressionante de 9,2 Km/h e já tinha percorrido 197 km, andei até completar 208 Km e simplesmente ficou impossível de seguir em frente.




Quatro aventureiros de Dois Irmãos enfrentando o frio do litoral sul para pescar viram a minha situação e ofereceram carona, estavam em uma Toyota que gemia para passar pelo balneário virado de ponta cabeça e percorre os 10 Km restantes onde eu deixaria o meu windcar e começaria outra jornada. Eram 18:30 h quando cheguei no balneário conduzido pelos meus anjos da guarda que cometi o erro de não anotar nomes para citar devido ao cansaço.


Fui rapidamente embarcar no último ônibus para Santa Vitória do Palmar, buscar um banho quente e uma cama confortável na residência dos meus tios José e Antônia onde sempre foi meu porto seguro nesse extremo sul do nosso país.
Após uma noite de sono saio em direção a Rio Grande buscar o meu carro para resgatar minha náu sobre rodas e retornar para casa feliz e com a alma lavada.



Viajando então bem acompanhado pelo meu filho caçula dando outra dimensão e alegria a viagem, revigorando e sabendo que tem mais aventura pela frente.



Balneário do Hermenegildo

Fica aqui o nosso agradecimento a todos que de alguma forma contribuíram para que essa aventura fosse realizada:

Nelson Luis que foi prestativo e fez o resgate do Pedrão no Farol do Albardão
Aos moradores que carregaram o Pedro ao Farol
Aos militares da base da Marinha do Brasil que acolheram-nos da melhor forma possível
Aos quatro aventureiros de Dois Irmãos
Aos meus tios José e Antônia que receberam-me de braços abertos
Ao meu parceirão Pedro Rodrigues que com sua alma criativa e de bem com a vida enfrentou essa aventura com coragem e desprendimento
Ao fotógrafo Cleto Arrieche que cedeu uma Go Pro para registrar as imagens da viagem 

Muita obrigado a todas as forças que me impulsionam e me freiam permitindo a cada dia um novo aprendizado e dando-me forças para seguir em frente.

Paulo Albernaz

BONS VENTOS!!!



Comentários

  1. Que beleza de viagem, parabéns!!! Saudades do Litoral Sul!

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  2. Muito show! Parabéns pela iniciativa e coragem! =]

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  3. Obrigado, fico muito feliz em compartilhar os momentos do meu caminhar e será dessa forma que creio crescer com meu entorno.
    ABRAÇO E BONS VENTOS A TODOS

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